Pedal por BH – 26/02

Embora o blog seja sobre o uso de bicicletas nas vias urbanas e rurais, não se exclui daqui as informações relativas ao cumprimento ou não das regras de trânsito previstas no Código de Trânsito Brasileiro (CTB).

Hoje,em um passeio com três iniciantes no pedalar urbano (duas mulheres e uma criança), o descaso pelas leis de trânsito, por conta dos motoristas de veículos de tração, visto por eles, e confirmado por mim, foi impressionante. Partimos do bairro da Graça, descendo por dentro do bairro e cruzamos a rua Jacuí. Optei por não levá-los por uma via de maior fluxo, por conta da inexperiência de dois dos pedalantes e pela falta de resposta física dos três. Adentramos o bairro Concórdia e fomos no sentido da Avenida Bernardo Vasconcelos. Ao chegarmos na mesma, vi que a opção seria andar pelo passeio, por conta do alto fluxo e da velocidade “assustadora” dos veículos de tração.

(Embora haja uma imensa discussão sobre essa prática, andar pelo passeio, com baixa velocidade, para iniciantes não é uma opção ruim quando a outra é se arriscar em uma via com alto fluxo e de velocidade máxima de 60km/h, com vários cruzamentos).

Ao chegarmos ao início da ciclovia da av. Américo Vespúcio, lhes disse para ficarem atentos aos cruzamentos e aos pedestres que insistiriam em transitar nas faixas da ciclovia, mesmo com passeio ao lado. Pode parecer dúbio e contraditório o relato, por conta de termos andado no passeio logo antes. A diferença é que eles poderiam andar no passeio sem correr riscos, nós (os três pedalantes) correriam grande risco de vida caso transitassem pela avenida supracitada, no perímetro mencionado (cerca de 1,5km).

Seguimos pela ciclovia e não foi surpresa alguma. Os artigos do CTB abaixo foram desrespeitados a cada 50m. Não era para embarque e desembarque, entrada em garagens ou algum tipo de situação que o “bom senso” falaria mais alto. Devemos prezar pela coerência e pelo respeito às regras  jurídicas, mas há uma que vale muito e não está em manual algum, as regras de convívio social. Os veículos estavam estacionados (sem condutor no interior do veículo) na ciclovia, no sentido da mesma, e nos passeio, no sentido oposto, ou seja, ocupando o passeio inteiro. Mesmo que, nesse perímetro, não transitássemos no passeio ,por conta de existir um local específico e exclusivo para bicicletas, os pedestres tinham de adentrar a ciclovia para seguirem seus destinos. Os carros parados sobre o passeio estavam desde sem ninguém até sendo lavados por três homens. Homens esses que, por alguma razão, estavam conversando dentro da ciclovia, nos viram aproximando e se quer se moveram de seus locais. Tivemos que desviar para não colidirmos.

Continuamos seguindo a ciclovia e a vontade dos pedrestres de andarem nas faixas dela nos chamou atenção. Na volta, pedimos para que um grupo de pedestres (um casal e duas meninas – cerca de 12 anos cada) andasse no passeio, por conta do local reservado para eles e para nós (vimos apenas mais três bicicletas fazendo uso da ciclovia). Os indivíduos acharam ruim conosco e falaram algumas coisas que não vale a pena retratar aqui.

Continuamos voltando e vimos um homem empurrando uma senhora, muito idosa, em uma cadeira de rodas pela ciclovia.. Alertei os demais ciclistas para tomarem cuidado com eles. Nesse ponto entra o bom senso e a sabedoria de como conviver em uma sociedade altamente (se é que há grau para isso) heterogêna. Os passeios da avenida Américo Vespúcio, embora muito largos, são de difícil acesso para um cadeirante, por conta das irregulares de uma “casa para outra”, das raízes, dos carros estacionados/parados, e demais dificuldade que os deficientes encontrar nas ruas da nossa capital, mas nada que seja complicado para pedestres com plena capacidade de se locomover. Não me parece nada problemática tal situação. Passamos pelo homem, que tirou a cadeira da nossa frente quando nos viu, e a senhora e agrademos. Terminamos o percurso da ciclovia com algumas constatações sobre ela:

1. Faz-se FUNDAMENTAL o acréscimo de sinais luminosos para indicação de que a bicicleta pode ir ou não nos cruzamentos. Diga-se de passagem, são muitos.

2. Assim como nas demais ciclovias da capital, a falta de sinalização, para o pedestre, de como (não) usar a ciclovia é um problema grave.

3. O descumprimento dos códigos de trãnsito abaixo é outra questão não solvida, mas em toda a capital, não só nas ciclovias.

4. A imprudência dos motoristas e motociclistas é algo que incomoda quem já anda de bicicleta nas ruas de BH e arrepia/amedronta os que querem começar ou estão começando.

Voltamos para o bairro e nenhum problema, para além dos já citados, ocorreu.

A noção de espaço e o respeito ao espaço é o maior problema do trânsito. Talvez ela seja parte de uma educação para o trânsito, mas é , antes disso, parte da educação das pessoas para a vivência em sociedade.

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Percurso total – cerca de 10km com subidas e descidas leves.

Velocidade média – 11.1km/h.

Nenhum pneu furado, corrente estourada ou maior problemas mecânicos.

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Art. 181. Estacionar o veículo:

        VIII – no passeio ou sobre faixa destinada a pedestre, sobre ciclovia ou ciclofaixa, bem como nas ilhas, refúgios, ao lado ou sobre canteiros centrais, divisores de pista de rolamento, marcas de canalização, gramados ou jardim público:

Infração – grave;

Penalidade – multa;

Medida administrativa – remoção do veículo;

XIII – onde houver sinalização horizontal delimitadora de ponto de embarque ou desembarque de passageiros de transporte coletivo ou, na inexistência desta sinalização, no intervalo compreendido entre dez metros antes e depois do marco do ponto:

Infração – média;

Penalidade – multa;

Medida administrativa – remoção do veículo;

Art. 182. Parar o veículo:

VI – no passeio ou sobre faixa destinada a pedestres, nas ilhas, refúgios, canteiros centrais e divisores de pista de rolamento e marcas de canalização:

Infração – leve;

Penalidade – multa;